
Absorvo a palavra inerte d’um credo extinto
pregada nas tábuas rotas do cais salobro
o sabor da fúria do que sinto, vejo e minto
nunca houve diálogo tão sem verve, ao dobro
[Quimeras d’água salgada esperneiam...]
Sinto o quadrangulo de um sóbrio quarto
inspirando o que deste vento ameno assopra
e leva as sementes a quem amargamente, as evoca
envelhecidos tonéis embarcam, eu parto...
[aplausos !...a platéia delirante aguça a sanha]
Mentes que antes se esvaeceram em sólidos medos
ora se transmutam em gases pífios e forçam o poema
que se esforçam em driblar a ferro, os tiques e toques
nas masmorras forradas de poeira de corpos e lemas
[o quinteto executa a saga de um cristal quebrado]
Tão eloqüentes enquanto se calam, cenas gritam
aos uivos incrustados nas grossas lágrimas retintas
fingem o açúcar mais doce, quando amargo soam
e dançam píncaros exaustos de lamentos crus
[alianças tilintam nos ladrilhos dos palácios]
Linhas paralelas se cruzam num possível inexistente
conjugam o (des)verbo do absurdo inconsciente e nulo
onde retinas jazem ao véu de discursos obsoletos,
e se distanciam em árduas esquinas plantadas em muros
[as maçãs caem de seus fracos arbustos e poluem]
O que os gestos retalhados, navegam aos seus cumes ?
Invocam rezas e canções idolatradas incólumes
miram ao longe, tão perto quanto possam arremessar
sufragam em sonhos descomedidos e disformes
[as gruas se afastam e apontam o esplendor do caos]
Expressões de ira, iradas aprontam as miras e atiram...
os devaneios dos anjos dizem “assim seja para sempre”
Tombam as exéquias em posição vertical, no horizonte
Braços abertos acima, se esquivam do ritual e do centro
[o pano fecha...o teto desaba...as portas são lacradas...]