Sou o que sou

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Sampa, SP, Brazil
Sou terra, por ter razões. Sou berro, se aberrações. Sou medo, porque me dou. Sou credo, se acreditou

domingo, 19 de dezembro de 2010

Despedida (em 7 notas mudas, não tocadas)



Absorvo a palavra inerte d’um credo extinto
pregada nas tábuas rotas do cais salobro
o sabor da fúria do que sinto, vejo e minto
nunca houve diálogo tão sem verve, ao dobro
[Quimeras d’água salgada esperneiam...]

Sinto o quadrangulo de um sóbrio quarto
inspirando o que deste vento ameno assopra
e leva as sementes a quem amargamente, as evoca
envelhecidos tonéis embarcam, eu parto...
[aplausos !...a platéia delirante aguça a sanha]

Mentes que antes se esvaeceram em sólidos medos
ora se transmutam em gases pífios e forçam o poema
que se esforçam em driblar a ferro, os tiques e toques
nas masmorras forradas de poeira de corpos e lemas
[o quinteto executa a saga de um cristal quebrado]

Tão eloqüentes enquanto se calam, cenas gritam
aos uivos incrustados nas grossas lágrimas retintas
fingem o açúcar mais doce, quando amargo soam
e dançam píncaros exaustos de lamentos crus
[alianças tilintam nos ladrilhos dos palácios]

Linhas paralelas se cruzam num possível inexistente
conjugam o (des)verbo do absurdo inconsciente e nulo
onde retinas jazem ao véu de discursos obsoletos,
e se distanciam em árduas esquinas plantadas em muros
[as maçãs caem de seus fracos arbustos e poluem]

O que os gestos retalhados, navegam aos seus cumes ?
Invocam rezas e canções idolatradas incólumes
miram ao longe, tão perto quanto possam arremessar
sufragam em sonhos descomedidos e disformes
[as gruas se afastam e apontam o esplendor do caos]

Expressões de ira, iradas aprontam as miras e atiram...
os devaneios dos anjos dizem “assim seja para sempre”
Tombam as exéquias em posição vertical, no horizonte
Braços abertos acima, se esquivam do ritual e do centro
[o pano fecha...o teto desaba...as portas são lacradas...]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Naquela casa...


Naquela casa tive as primeiras dores,
amei e sofri, pelos primeiros amores...
Foi naquela casa que aprendi a oração
e para quem, onde e quanto pedir perdão
aprendi como se deve cair e me levantar
abaixar a cabeça, mas nunca me arrastar
a tocar piano, comer ovo frito e giló
a curtir o mau tempo, aqueles com vento
com bolinhos de chuva e canela, da vovó...
aprendi a chorar baixinho, coração apertado
à discussões efêmeras de meus pais,
por lutarem por meu futuro esperado...
Naquela casa, aprendi a acordar muito cedo
encarar a vida sem nenhum medo
enxerguei quem eram os verdadeiros amigos
corri de tempestades, desfazer as más vaidades
sempre à serenos braços abertos, como abrigos...
Naquela casa vivi meus mais belos sonhos
aprendi a lidar com pesadelos estranhos
recebi carinhos e ensinamentos tamanhos
ah !...que saudade de tão bons tempos d'antanho
s..."



(dedicada cordialmente à cara amiga Cristina Valente
que sugeriu o tema no FB...)
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