Sou o que sou

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Sampa, SP, Brazil
Sou terra, por ter razões. Sou berro, se aberrações. Sou medo, porque me dou. Sou credo, se acreditou

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Versos do "Eu"

Vivo de sonho

Mas não sou diabético.

Um tanto enfadonho,

Por vezes tristonho,

Esperto? Hum...suponho. 

No filosofal, peripatético,

Mas no cotidiano, eclético!

Vamos indo e vindo,

Um dia assim, outro assado,

Um dia jasmim, outro couraçado.

Entre um tempo bisonho,

E outro, pouco elétrico,

Mas todo tempo estressado!

sábado, 2 de outubro de 2021

Aviso

Avise aí, a dona Maria e o seu Tomás
A dona Leontina, o Pedroca, a Lilica,
Que tem que ver como é que fica,
Pra ver como é que faz.

Fala aí pro Jão, que tá faltando pão,
E diz pra dona Penha, pra esperar a senha
Lembra a Patrícia, tomar tento com a milícia,
Mas diz pro Alfredo, pra não ter medo. 

Avise todos por aí, por lá e acolá
Que a vida tá difícil, mas vai melhorar
Quando amanhã, o samba enredo mudar,
Nossa terra, hoje estranha, vai decolar.

Conta pro Rogério, que vai ter refrigério,
Mas alerta o Alberto, pra ficar esperto
Que, ano que vem, vamos ficar mais perto,
E a vida continuará, sendo um grande mistério.


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

À Bandeira do Brasil

Usurparam minha bandeira
Minha bandeira brasileira
Verde, amarelo, azul e branco
Raptaram-na, no solavanco

Tomaram-na rápido, de assalto,
Como sua exclusiva propriedade
Esqueceram que o pendão mais alto
Pertence a todos, à comunidade.

De "símbolo augusto da paz" 
Transformaram-na num trapo de guerra
Distorcendo-a, como besta-fera que berra
Em atos vis, crassos, de mentira contumaz

Mal usaram nossa linda bandeira
Sem medidas e nenhuma permissão
Como brasão de torpe cegueira
Estampada alhures, como pano de chão

Não é minha, nem tua, nem deles...
E tampouco mera intempérie ocasional
É nossa, de todos, o bel tecido fino
Não pertence a este tosco desatino!
Este lábaro que é nosso pavilhão,
Estandarte de cunho paladino,
Está conosco, dentro do coração! 



sábado, 5 de junho de 2021

Advertência

Pela permanente impermanência

Ninguém "é", todos "estão".

Querer "ser", é incongruência

A vida é volátil, talvez ilusão


Viver em perene experiência

Faz-se mister, esta alusão:

"Estar" é nobre sapiência,

"Ser" é pura elucubração. 

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Quatorze versos para um adeus

Quando se ouve um adeus
assim, em definitivo,
Fica-se sem chão,
Sem qualquer lenitivo,
que alivie a presumível dor,
do que um dia,
fora chamado de amor.

Vai-se a um estado primitivo...
Quase estanca-se o coração,
Num clamor extra sensitivo,
Respira-se, mas...um tanto em vão.
Mas nesses quatorze versos
Eternizo todos os sonhos meus,
Teu olhar fica impune...não há adeus.

domingo, 5 de abril de 2020

Amar à distância


Amar de longe, requer a prática da paciência.
Saber a hora da convivência, que não tange. 
É saber trocar o olhar com as vistas da imaginação.
Sentir o aroma do ato, sem tê-lo, de fato.
É acreditar no querer do outro, mesmo que o oposto não creia.
É repartir o mesmo pão, sem estar na mesma ceia.
É refletir a imagem do outro, em espelhos d'água de pensamentos.
É querer ser par sem poder estar no mesmo lugar. 
Ser fiel além do céu.
É todo dia, mesmo à revelia, ter-se sua própria lua de mel.
É poder contar com alguém, mesmo que esteja além do alcance.
É, pelo outro estar absorto, como está uma nave em alto mar, sempre procurando seu porto.
É bailar uma música imaginária, num universo paralelo, onde toda canção nos pertence.
Amar de longe, enfim, requer a prática de um monge; Onde o mantra entoando,
é sempre querer estar bem perto, 
mesmo que inverossímil, o mais célere possível,
daquele ser tão amado.


terça-feira, 17 de março de 2020

Vícios

Damos murros em ponta de faca
Tomamos rumos erráticos na estrada
Batemos sempre na mesma tecla.

Aí chega o inevitável dia
O dia do aluvião
Que a faca perde o corte
Que a estrada nos põe no Norte
E o piano perde o diapasão.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Rosa dos Ventos

É no encontro das águas
No alinhamento dos planetas
No ajuste das mágoas
No revoar das estrelas
No rugir dum leão
No tremor do vulcão
Nas flores mais belas
Quais pinturas em telas
No revoar das águias
Na oração das crianças
Nas mais vívidas danças
Nas músicas mais tocadas
Nas canções mais embaladas
Nos pães recém assados
Nos cabelos perfumados
Nos pijamas desalinhados
É onde se encontra o amor
De todos os enamorados...

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Praxis

Não é uma questão de envelhecer
É o impermanecer
Não é uma questão de idade
É a prática da saudade
Não é uma questão de sumir
É o poder de ir e vir
Não é uma questão de ausência
É esperar com paciência
Não é uma questão de amar
E o querer sentir e assumir
Não é uma questão de quantidade
É o emprego da vontade
Não é uma questão de sorte
É obter um certeiro norte
Não é uma questão de dilema
É a garra dum poema
Não é uma questão de apatia
É a força da poesia
Não é uma questão de acabar
É a serenidade de se deixar levar...


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Rescaldo


O que me espera um passo à frente? 
Um jardim num átrio ou um cadafalso?
O que me espera além da lúgubre esfera?
 

Algo de meu cerne diz:
oh, triste amargor que vem à baila, sempre que!
Avizinham-se lágrimas de sonhos perdidos.
Pérfidos ditames ausente de almas.

 

Quão suave foi, um dia, o teu toque. Que me dividiu em cem.
Quão latejante esteve, um dia, o beijo. Que me uniu em um.
Ora o silêncio que jorra, nem mais importa. O costume se deu. 

Ora a solidão que maneja meus dias. Um dia, não mais. Muitos.
 

E este peso latente, constante. De onde vem, senão?
E este quarto, meio minguante, que insiste. De qual lua, talvez? 

A sanha do outro, pesa-me, algures. Alienantes. Por que?
Oh, trágica masmorra cruenta de outrem. Por que?
 

Quão aberto foi teu abraço. Outrora. Foste como minha aurora. 
Tão desvelada a tua estrada, a mim, foi-me truncada.
Foste água de prímula, em minha aridez. Chuva branda.
Foste, não um dia. Muitos. Aqueduto irrestrito.


Descreva-me como me vês. Deita-te aqui e descansa teu íntimo.
Teu cárcere agora é meu. Sou teu que te liberto, do teu.
Assumo a tua imensidão na minha alcova.
O teu passo à frente está líquido, certo e sereno.
Vem.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Meu sol

Por que fizeste de mim, o teu lenho?
Por que mostraste a mim, para que venho?
Acendeste meu fogo, em brasa.
Como Ícaro, no teu sol,
Derreteste minhas asas.
Minha pele, coraste em rubro torpor
Deste fogaréu que tens em ti,
Todo este tórrido amor...

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Quando eu morrer


Quando eu morrer,
Deixo algumas letras, alguns sons formatados.
A uns, quase nenhum legado.
A outros, lembranças de fúria
A outros, alguma injúria.
Porque, além de tudo, sou humano;
Em dias nobres, um fino pano e,
Em dias desastrados, reles farrapo;
como toda gente, mesmo que irreverente,
vira um pedaço de trapo.
Mas a outros, deito um pouco de amor;
Em dias frios, cedi meu calor,
e, nos quentes, algum refrigério,
tudo muito simples, sem nenhum mistério.
A alguns poucos deixo a vida, que, através de mim, foi-lhe concebida, por que não ousar dizer, à minha própria, estendida.
Deixo a lembrança, não a perene, mas a temporal; que um dia estive aqui, com um existir normal.
Mas vivi, de forma plena, essa dádiva colossal!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Rupturas


Há as que se esgarçam, como pura seda que foram um dia, mas ao pequeno sopro se desfazem em ló.

Há as que como um balão teso e forte, explodem e se esvaziam imediatamente, ao suave toque de um espinho imprevisto e só.

Há as que, como folha d'árvore que viçosa fora, quando presa ao caule firme, pelas intempéries se despregam, secam, murcham e se transformam em pó.

Há as que, como trem robusto e forte, em alta velocidade descarrilham e causam estragos, sofrimento, sem piedade nem dó.

De toda forma que seja, toda ruptura por vezes causa dor, outras causam torpor, outras liberdade emergente, e outras, tal como boa poesia, nos afiam à vida sequente, como pura pedra de mó.

sábado, 28 de setembro de 2019

Como fosse fácil


Como fosse fácil, negar a história;
Esquecer os dias de glória;
Num dia de frio, um cobertor,
ou um refrigério, no calor;

Agir sem caridade, ao angustiado; 
Claudicar à ajuda sincera, ao necessitado;
O sabor dos beijos, o ardor dos desejos;
As juras de amor eterno, ou mesmo somente um abraço fraterno;

Como fosse fácil não lembrar,
De toda fragrância no ar;
De todo sorriso faceiro;
De todo toque certeiro;
De toda melodia entoada,
nas noites de tez desnudadas;
Dos dias passeados, de mãos dadas;

Como fosse fácil não querer,
Todas os sonhos, realizados;
Todas as promessas, cumpridas;
Todos os segredos, guardados;
Os dois corações inundados;
Todo secreto encontro, marcado,
De todo nosso infinito, enamorados...


sábado, 7 de setembro de 2019

Prãna (Sopro de vida)


O meu sentir por você, transcende.
Além do Ganges, banha-me; 

Além do cheiro, perfuma-me;
Além do gosto, alimenta-me; 

Além da pele, transborda-me;
Além do olhar, transparece-me;
Além do toque, mimetiza-se;
Além da emoção, sublima-se;
Além do cosmo, origina-se;
Além do éter, evapora-me;
Além da razão, enlouquece-me;
Além do céu, nirvana-me...

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Rescaldo


Que todo o Mistério da Igreja
Que encerra Seu Nome, Jesus
Sob Tua misericórdia que enseja
Alivia-nos o peso de nossa cruz

Santo dos Santos, que nos seduz
Confio no remédio do Homem
Mas ao toque do Sagrado Manto
Preciso mesmo é da Tua Luz

Pedra Filosofal magnífica
Cura-nos ontem, hoje e sempre
Com Tua sabedoria mística

Se não por nosso merecimento
Daí-nos o Teu sacro provimento
Pela Tua Benevolência metafísica

domingo, 27 de maio de 2018

O som (Fiat Lux)

Quando tu partires,
sobrarão  teus sons, em minha memória.
Ficará o som do teu nome, em minha história.
Soarão introjetados, os cantos mais íntimos.
No tempo, o mesmo de Deus, que criou com o som do verbo,
delinearás o meu som, no teu acervo.
Tocará no sino do nosso passado, o que nos dissemos,
o que nos fizemos, o quanto nos pertencemos.
Cativos às sinfonias  por nós, tocadas e ouvidas
em nossas alcovas,
permanecerão soando até o infinito,
de um sonho etéreo, tão bonito,
incólumes às todas provas.
Quando acabarmos, ficará o tom de bons dias vividos,
a nossa música criada por indelével direito adquirido,
de eras sonoras, de um tempo jamais preterido.
["Fiat Lux.". E com o som, fez-se toda luz.]





terça-feira, 31 de outubro de 2017

Passarin

Vem Bem-te-vi, canta na minha janela
Diz como a vida é simples e tão bela.
Pousa, Colibri, sobre meus ombros
Me ensina a sair dos meus escombros

Avua , Sabiá, faz rasante em minha alma
Me mostra como conseguir toda tua calma.
Dança, Pardalzinho, foge da cruel armadilha
Faz da minha vida, como uma maravilha.

Corre rápido e esperto, meu lindo Curió
Escapa ligeiro da tua triste forquilha,
Me ajuda a viver a lida, assim, tão só.

Vem passarinhada, avua longe do ninho
Mostra pra todo mundo, qual o caminho
Ensina a gente toda, como desatar todo nó.

sábado, 2 de setembro de 2017

Presentes

Se ganhaste beijos, se perderam
Se ganhaste carinhos, se esfriaram
Se ganhaste bombons, se acabaram
Se ganhaste flores, se murcharam
Se ganhaste anéis, te roubaram
Se ganhaste pinturas, se apagaram
Se ganhaste livros, se queimaram
Mas...se ganhaste um poema e uma melodia,
te eternizaram.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Interior

Galo que canta, sol que se alevanta
Cheiro de café torrado
Leite na caneca, natado
Fumaça de mato queimado
Chão de terra, som de boi que berra
Mesa de "tauba", xícara de barro
Frozinha na janela, toalha de flanela
rapadura, queijo de casa,manteiga pura
Prosa de caipira, um sarro
Fumo de corda, chapéu na borda
Calça de pano grosso, loja de estribo
Sola de couro, prego de ferro, fio de serra
Ainda bem cedo, cheiro do almoço
Antes, uma pinguinha com tremoço
Cedo logo,vou nessa...Sou dessa tribo, seu moço...

domingo, 18 de junho de 2017

Planeta Azul

Terra, pérola azul, minúscula
Doce Criança perdida no imenso
Te destroem firme e aos poucos
Tratam-te vilmente,à triste mácula
Gritas chorando aos ouvidos moucos:
"Ampara-me! sou teu jardim suspenso!"

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Fotógrafo



Fotografarei
As mazelas do mundo.
As feiuras do Homem.
A miséria e o infortúnio.
A imundícia da raça.
A tristeza da espécie. 

A ignomínia da existência.
A ignorância, a escravidão.
Os ventres expostos.
Pois a beleza é óbvia e irritante.
A beleza é fácil e sustentável.
E a beleza é inócua e servil.
Fotografarei os cacos da vida.
E a certeza da morte.

(a Sebastião Salgado)

sábado, 20 de agosto de 2016

A felicidade e o chuveiro


Numa certa idade
a felicidade
se faz em pedaços,
como pequenos laços
e nunca por inteiro.
Ela não vem
duma caneta tinteiro,
tampouco com muito dinheiro,
ou relógio de ouro ,suíço,
nada disso!
A felicidade vem
como nos convém,
num único vintém:
Admirar o meu amor,
esbanjando todo calor,
em meio à fumaça do vapor,
aproveitando o tempo inteiro,

tomando banho, leve e linda,
debaixo do meu chuveiro!

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Teclas



Mãos adjacentes, planas.
Vezes repousam, vezes outras
correm soltas.
Ágeis, férteis. Desprovidas de peso.
Mãos sem gravidade.
Aracnídeas mãos sobre o plano.
O plano de marfim e ébano.

Num acorde, acordam sentimentos
Profundos e sonoros,
ritmados provimentos.
Dedos curvados, alma retesada.
Dedos articulando sons
Melodias infinitas; outras desditas.
Mãos delineando tons,
Acariciando teclas.
Às vezes, acoitando-as,
mas jamais magoando-as...


Teclas brancas e negras.
Teclas negras e brancas.
Esculpidas, esmeradas, envernizadas.
Como os Homens.
Os Homens e suas músicas.Multicoloridas.
Que soam percutidas em suas cordas,
corações, mentes e almas.
Teclas para os Homens de boa vontade.

(sobre a foto de Leny Fontenelle )

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Meu bolero (de Ravel)




O 
teu
prazer
me chega
aos poucos, 

num crescendo
que me faz lembrar do
caminhar sonoro e baixo
duma orquestra sinfônica,
na batida silenciosa e contínua
até atingir a explosão magnífica
de uma plasticidades única e firme
como os últimos acordes orgásticos
dum bolero mui famoso, espetaculoso
onde ecoa até o meu infinito, de tudo que 

é seu, de mais íntimo, mais carnal e mais bonito...

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Provações de vida


Quando a saudade extrapola, prova-se à vida
Quando sucumbe-se à carência, prova-se à vida
Quando a salvação urge, prova-se à vida
Quando o coração descompassa, prova-se à vida
Quando a razão se desvia, prova-se à vida
Quando o deserto devasta a alma, prova-se à vida
Quando o abismo se abre, prova-se à vida
Quando a solidão grita em silêncio, prova-se à vida
Quando o amor mitiga, prova-se à vida
Quando a dor vira universo, prova-se à vida
Quando a dúvida espreita, prova-se à vida
Quando a calúnia assola, prova-se à vida
Quando as lágrimas recrudescem, prova-se à vida
Quando a estrada estreita, prova-se à vida
Quando a alegria escasseia, prova-se à vida
Quando a tristeza toma o terreno, prova-se à vida
Quando a ajuda erra o alvo, prova-se à vida
Quando o trabalho definha, prova-se à vida
e...quando a caridade definha, é finita, a vida!

terça-feira, 19 de abril de 2016

Um lenço perfumado...








Mandaste-me um lenço perfumado 
Embebido ao teu perfume costumeiro
Nada paga isso, nem todo dinheiro
Pois nada deixa-me inda mais amado


Enviaste-me um pedaço do teu cheiro
Aquele que por nos é, tão estimado

Com teu intenso amor, inebriado
Imerso em mim, e no teu corpo inteiro


Ah! Quiséramos nós, o flerte sorrateiro
Mesmo distantes, mas muito apaixonados
Sermos presentes, em amor tão acatado 


Ah! Pudéssemos nós, estarmos amparados
Eterna e plenamente, a este imenso cativeiro
Viver todo dia, como fosse todo amor primeiro...
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