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Sampa, SP, Brazil
Sou terra, por ter razões. Sou berro, se aberrações. Sou medo, porque me dou. Sou credo, se acreditou

sábado, 31 de dezembro de 2011

Pequena reflexão para os fins-de-ano.



Que vivemos tempos difíceis, estamos cansados de saber.
Nossa memória não é a mesma, nossos corpos já não nos obedecem com tanta presteza...
Coisas inexoráveis da vida, não há como determos isso, é um fato.
Talvez seja por isso mesmo é que, no seu inverso proporcional, vemos e vivemos tempos superlativíssimos!
Tudo é e tornou-se necessariamente “super-extra-mega-blaster-hiper”!
Em redações não se usa mais uma exclamação ou interrogação: são muitas, exageradamente muitas, como que apenas uma já não pudesse expressar o espanto ou a dúvida inerentes!!!!!
Nada mais é apenas “engraçado”, é sempre “hilário”...Nada pode ser mais “bom”, “normal”, “sob medida”, “justo”, “adequado”...Tem que ser “extraordinário”, “magnífico”, “surpreendente”, “espetacular”, “incomensurável”, “surreal”, “íssimo”...
Li uma informação recente que um hotel defronte à “hiper-super-famosíssima” árvore de natal “gigantesca-super-blaster” na MEGAlópole Nova Iorque , cobrará 3500 dólares por cabeça para uma ceia-SUPER de mais um e simples réveillon, qual seja, mais uma “imponderável” e ínfima volta do planeta Terra, em seu eixo gravitacional maior, o Sol...
Tudo isso com exagerada festa, muita comilança e “bebelança”, numa verdadeira catarse e expurgo, com sorrisos escancarados, como se por um lado o mundo fosse acabar logo mais,e por outro como se a “felicidade” se espargiria “sine qua non” por toda a humanidade, já igualada automaticamente pela “alegria insana” deste momento de exagero festivo.
Isso me fez recordar de coisas do meu passado remoto.
A 1ª é que meu avô, imigrou da “vecchia Itália”,aos 19 anos, no começo do século 20, num navio de imigrantes, junto com centenas de outros aventureiros a tentar uma vida melhor em terras distantes e emergentes.
Meu avô, em sua terra natal era um artífice “Scarpaniere” , traduzindo, um “fazedor de sapatos” , ou seja, na acepção da palavra, um sapateiro!...Tudo muito simples, normal,justo e principalmente sóbrio.
Me lembro com carinho, com que simplicidade enfileirava no jardim na casa da rua Apeninos, a mim e meus primos (seus netinhos) , e com uma folha comprida de grama, media nossos pés, para depois nos presentearmos com sapatos feitos a mão por ele, no natal, ou mesmo sem nenhuma ocasião especial, apenas para o prazer de fazer algo especial por nós.
Outra recordação das boas é que, a meia-noite, era tradição em alguns bairros de São Paulo, principalmente os “colonizados” por aqueles mesmos imigrantes de outrora, já na sua terceira ou quarta gerações , sairmos as portas de nossas casas, a grande maioria sempre muito simples, geminadas e aconchegantes, com martelos nas mãos, a batermos nos postes, anunciando a chegada do ano novo, como se fossem sinos improvisados.
Não havia toneladas de fogos ensurdecedores, não havia programas de canais de televisões suspeitas atrás de “Ibopes”, com também suspeitos “artistas” e que tais, todos peremptoriamente vestidos de branco, ou outras cores suspeitamente simbólicas sabe-se lá de que e para que.
Não pulávamos 7 ondas, não comíamos 7 bagos, não entravamos nas águas marinhas de costas, nem de lado, nem de forma alguma, esperando um porvir certo de vitórias e felicidades todas, obrigatórias e imprescindivelmente inequívocas...
O que tínhamos eram apertos de mãos compromissados com amizade, parentesco e carinho.
Tínhamos abraços sinceros, nada efusivos, apenas quentes e sóbrios, a nos desejarmos ao futuro sequente equilíbrio, temperança, e uma vida condizente com probidade, proficuidade,tudo na medida certa, de acordo com as necessidades de cada um.
Pois é!...coisas muito simples, normais, singelas, sóbrias, que se tornaram superlativas para sempre, em nossas memórias.
Sem superlativos, nem doutorados, nem “MBAs”, nem empáfia, soberba e esquisitices hipócritas, nem arroubos emocionais descontrolados, num ataque de histeria coletiva sem precedentes...
Tanto é que, muitos de nós desejávamos uns aos outros, um “Feliz Ano Bom”.
Apenas bom, já estaria de justo tamanho!
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