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Sampa, SP, Brazil
Sou terra, por ter razões. Sou berro, se aberrações. Sou medo, porque me dou. Sou credo, se acreditou

sábado, 26 de novembro de 2011

Jão que sonhava


E então, era o Jão que sonhava
e sonhava, e sonhava, e sonhava
era Jão que sonha o sonho de ser remador
que sonhava em ser o mais forte semeador
e sonhava o sonho que vinha
viesse de onde vinha
dum cacho de uva ou d’outra sardinha
duma lata amassada ou vã ladainha
e sonhava, e sonhava, e sonhava
que tinha o sonho dum grande amor

Era então que sonhava o sonho de tolo
dum copo de sonho, um pedaço de bolo
e sonhava que a linha do seu horizonte
viesse como vinha, de trás de um monte
e sonhava, e sonhava, era o Jão que não tinha
era o Jão que não vinha, dum vinho de bodas
dum sonho, poucas bocas e rimas todas
e sonhava, e sonhava, era assim
como um sonho, de tolo risonho
era Jão que num sonho, sonhava tristonho

E então belo dia, de barriga vazia
sonhou o que sonhavam , de dentro da pia
que sonhava o sonho dum pão que não existia
e fazia, e queria, e pedia, e sofria
todo sonho sonhado, dum Jão que dizia
“que sonho faminto, minha Ave Maria !”

Era então que sonha o Jão
dum sonho de brisa, num danado calor
e sonhava, e sonhava e cantava
com todo sonho de fé e louvor
e falava, e chorava, e gritava
“Valhe-me meu Jesus Cristo,
que na sua cruz, morreu por amor,
me faz ver o que o justo tinha visto,
filho dos sonhos do Nosso Senhor !”

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ianê Mello entrevista Joe "Brazuca" Canônico (ou "Lustrando o ego II")


(Ianê Mello entrevista Joe Canônico, no blog Entre Gêneros)

EntreGêneros: "Sou terra, por ter razões. Sou berro, se aberrações. Sou medo, porque me dou. Sou credo, se acreditou."
Assim você se auto define, de forma poética, em seu blog. Fale-nos um pouco sobre você; sobre a pessoa além de seus versos.


JB: Bem, Ianê...Primeiro quero te agradecer a oportunidade da entrevista. Muito me honra, de verdade !
Falar da gente, sem cabotinismo, é tarefa complicada, pois pelo sim ou pelo não, o espelho é o que nos PARECE ser, e por muitas vezes tem reflexo distorcido ! (rs rs)
Eu, de uma forma palmar, sou um sujeito simples, sem maiores afetações, coisa e tal, tudo dentro de um viés mediano...
Não tenho nenhuma pretensão mais ou menos acirrada sobre a vida, a não ser vive-la ao meu modo (???...rs rs), e deixar viver cada qual ao seu !
Parece-me de bom tamanho, nessas alturas de minha existência terrena, seja lá o que signifique isso...

EntreGêneros: Você tem na música sua profissão. Como é viver em nosso país como profissional de música? Fale-nos um pouco sobre esse seu lado artístico e sobre as dificuldades que enfrenta.

JB: Bem...Na verdade, eu não vivo apenas de música, não. Apesar de ser, dentro de um universo próprio, talvez a mais importante delas (atividades...), hoje, no momento atual, se tiver que me “auto-rotular”, seria assim um “produtor multimídia”, onde abrangeria “n” correlatos, tais como produções em vídeo, áudio (em geral, e música inclusive), internet, enfim, numa “seara” de circunscrição mais vasta, além da música em si.
Contudo existe um porém aí : a PAIXÃO é por ela, indiscutivelmente ! (rs rs)
Aproveitando o gancho : as dificuldade para qualquer pessoa, brasileira, que pretenda sobreviver de sua arte, de uma forma séria e real, é sempre ungida de
grandes dificuldades e tormentos...Acredite nisso !
Se vale a pena ?...Isso já são “outros 500 cruzeiros”, ou como diríamos nós, os músicos, “outras fusas”...

EntreGêneros: Como começou seu namoro com a escrita? Quais suas leituras e autores inspiradores?

JB: Voce definiu bem ! Foi uma “paquera” ( coisa antiga isso...rs rs) , que virou um “namoro”, que virou um caso sério de amantes inveterados ! (rs rs)
Pelo que me lembro, aliás lembraram-me meus pais, que desde muito jovem, já dava lá minhas “tacadas” pelas sendas da poesia e que tais.
Na verdade, sempre gostei de “escrivinhar” , rabiscar minha coisas, assim como outros tantos da nossa espécie ( a humana...) assim o fazem !
E como sabemos, começa como comichão e acaba nos tomando como urticária,
com o perdão da comparação esdrúxula !
Quanto à “inspiração”, prefiro definir como “um vasto pomar abarrotado de frutos de todo matiz”...Dos muito bons, até os mais maduros, passando pelos extremamente verdes e pegajosos, até os “quase podres”.
Neste pomar, não há lugar, EM PRINCÍPIO ( desculpe o grito !...rs), para escolher sabores...Tem-se, a minha ótica, que se provar de todo fruto, e depois selecionar
os que, cada um a seu mote, lhe prouver !

EntreGêneros: Os sentimentos humanos são constantemente motivação e tema na escrita poética. O quanto você expõe de suas próprias emoções ao escrever?

JB: Isso dá uma exegese ! (rs rs)
Bem, em todo caso, é fácil...Procuro, de uma forma geral, “escapulir” desse “sentimentos” meus, próprios do humano, no momento que tento esboçar tais linhazinhas...
Por mais antagônico que nos pareça, eu procuro me abster delas, o mais possível, para que, de alguma forma, surja sempre algo mais próximo de um “racio-emocional”, ou seja, algo que esteja em sua minoria, vinculado ao meu “eu inferior”, meu “id”, o que ao meu ver, embota circunstancialmente de uma universalidade “saudável” à escrita, seja ela de que tipo for, prosa, poesia etc.
Particularmente, eu não acredito que, se consiga escrever “com a alma”, sem correr-se o risco de um “tropeção” no abismo de nossas autocomiserações e visões particularistas sobre os nosso próprios “universos”...
Mas, isso é uma verdade só minha, sem quaisquer alusões e/ou críticas a quem quer que seja, que pense diferente, e que escreva esparramando seu “emocional” pelo papel...

EntreGêneros: Joe Brazuca, Joe Canônico, são alguns dos nomes que você inventou para si mesmo. Prefere usar pseudônimos a seu nome real? Quantos "Joes" existem no artista e como se exprimem?

JB: (rs rs)...Então...
A resposta da pergunta acima, vem justificar, de uma certa forma, o “significado” de tantos “nick names”...rs
Realmente, tentamos criar “personagens de nós mesmos”, em nossas vidas e experimentações. Exatamente para desvincular a “persona” da “personificação” !
Contudo, no meu caso, existem explicações, que sejam :
Joe (nos dois casos...) é uma “corruptela” de João Eduardo, meu “verdadeiro” nome, mas NÃO É um nome “artístico”, que abomino tal expressão...rs. Seria apenas um “resumo facilitador”, mais identificável !
O “Brazuca” surgiu de uma “brincadeira” na internet, entre mim e o poeta/músico/multi-artista Lailton Araújo , grande amigo.E significa o que o próprio apelido quer significar : Joe, em BRASILEIRO, com muita honra !...rs
Já, o “Canônico” é sobrenome de família mesmo...Desse, nesta encarnação, não posso escapar !...rs
Os “Joes”, “são” apenas um enquanto corpo, mas infinitos vários, enquanto tentativas, acertos e erros...C’est la vie !

EntreGêneros: Em sua poesia você gosta de brincar com as palavras, tendo na criatividade sua marca registrada. A busca constante pela inovação exerce um papel importante na sua escrita? Escrever para você significa uma forma de auto-superação?

JB: Sempre, Ianê, cara poetisa !...A auto superação é, a meu ver também, o mote principal de toda e qualquer arte. Ai de quem fizer o contrário !...Daí, não será mais arte ! Será qualquer coisa, menos arte...No meu entender da “inutilidade” da arte, tudo que vem abaixo da auto superação, corre o risco da rudimentar especulação até o ridículo...
Quanto a “brincadeira” com as letrinhas, isso me fascina, tanto em mim (sem falsa modéstia...rs), quanto em tantos outros escritores que conhecemos, pois isso traz a SONORIDADE da palavra escrita, através da sua tradução falada, que por vezes, nada significam num contexto presumível, e na verdade, nem é para significar nada !...Apenas e tão somente, a MUSICALIDADE dessa mesma palavra que , por hora, perdeu o sentido crasso, para ganhar o sonoro, o lúdico, o poético...

EntreGêneros: " Todo escritor precisa de paz para sangrar", diz Fabricio Carpinejar. Esse pensamento se aplica a você?


JB: Putz !...é uma máxima do paradoxo da “criação” !...falou e disse, o Poeta Carpinejar ! Tô com ele e não abro !...rs rs

Muito obrigado, cara Ianê, um beijo !...Espero ter satisfeito o intento !

Joe “Brazuca” Canônico
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